SENHOR ENTORPECIDO
Uma alta e frequente dose de
euforia
Dissolvida em uma colher de
prata
Corre em minhas veias sanguíneas
E por algumas horas
Me deixa imune
ao mundo e suas chagas.
Uma violenta depressão mostra
e ensina
Como manter distância
Para não se machucar
de novo,
Mas quando o efeito passa
A sensação de estar sobrevoando
Acima da dor e do medo se
transforma
Em um complicado retorno
A dura e cruel realidade sem
fim.
Bem, certa vez lá estava eu
na plataforma
Esperando o trem passar,
E havia algumas pessoas
sentadas e outras de pé
Olhando quilômetros e quilômetros
De
solitários trilhos e fios elétricos,
E toda vez que eu ameaçava me
jogar
Alguém tentava evitar gritando:
Hei amigo não faça isso –
Apesar de tudo a vida ainda vale a pena ser vivida!
Mas ele mesmo adentrando em
meus olhos negros
Não conseguia entender que
naquele momento
Eu estava apenas procurando
Por um pouco de diversão.
Então em um dia estranho e
pálido
Eu estava encostado no para
peito da janela
Contando quantas vezes aquela
moça
Vestida de vermelho cintilante
Vendia seu corpo aos homens
Que por ali passavam
E enquanto ela negociava o
valor,
O incontrolável ciúme a
apunhalou pelas costas,
E todos fingiram que não a
conheciam,
Apenas disseram para policia
Baseado
nos vinte nove furos no braço dela
Que a vagabunda era viciada
em cocaína
E que de um jeito ou de outro
ela morreria.
E da janela para a cama em
algum momento
Enquanto eu espero as pílulas
Para dormir fazerem efeito,
No meu coração eu ainda sinto
Uma imensa
necessidade de escapar
Da constante escuridão
Que
paira sobre este mundo,
Mas todas as tentativas de
fuga
Tanto no passado como agora no presente
Ainda caem por terra
Me
deixando sempre no corredor da desolação.
E no vai e vem das coisas que
acontecem,
De repente, vagarosamente,
Eu
me lembro de noites tempestuosas,
E de como as coisas
costumavam ser
E de como tudo ainda continua
do mesmo jeito
Desde aquele dia.
Mas na manhã seguinte
Em meio a um silêncio peculiar
Eu podia ouvir uma voz sussurrando:
Hei amigo pense melhor –
Não
há necessidade de se sentir desta forma!
Mas este conselho nada sabe
Sobre as coisas que eu tenho enfrentado,
E quem aqui poderia imaginar?
Oh, não, não… eu acho que
ninguém.
Porque a vida realmente é
dura
E tempos ruins permanecem,
E meus passos se perdem
E eu
perco a vontade de viver
Enquanto o sentido da vida se
perde
No vento que sopra errante.
Sim… não conheço paz
E quietude há tanto tempo,
Mas se você ainda não acredita
em mim…
Aqui está à senhora
abstinência ao meu lado
Para não me deixar mentir.
E quem aqui poderia apontar
alguma direção?
Oh, não, não… eu acho que
ninguém.
Eu apenas penso.
Mas algum dia desses talvez,
Eu me satisfaça com alguma
coisa
Menos tóxica e pesada.
E quem aqui poderia me chamar pelo
primeiro nome,
Oh, não, não… eu acho que
ninguém.
Assim eu imagino.
Quando todos me conhecem
Apenas pelo meu pseudônimo,
Senhor entorpecido.
Senhor entorpecido…
Senhor entorpecido…
Senhor entorpecido…
Senhor entorpecido.
De autoria de Elvis Alexandre Guedes!
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