SALAMANDRA

Você já teve a sensação de estar vivendo 

Um momento fora do comum?  

Você já passou por alguma situação complicada 

E de extrema urgência?

Você já recebeu alguma advertência por quebrar as regras do jogo?

Você já descumpriu alguma lei, talvez ultrapassando a luz vermelha

E seguindo em frente sem olhar para os lados e para trás?

Você já se perguntou alguma vez por que o tempo

Acumula tanto e compartilha tão pouco?

Você já tentou alguma vez parar enquanto sentia a queda

Ao som nítido de um tempo tão vago e estranho?

Você já percebeu como a tristeza pode ser tão bela, 

Tranquila e terrível?

Você já fez amor ouvindo um anjo sussurrar 

“Eu te amo” sem sentir o mesmo,

E momentos depois com um olhar gélido teve que dizer a verdade?

Você já emprestou o coração para alguém que precisava 

Sem exigir nada em troca?

Você já fez coisas erradas acreditando cegamente 

Que estavam certas?

Quando alguém bate a sua porta colocando sobre seus ombros 

Mais culpa do que você é capaz de suportar por suas falhas,

Você será capaz de realizar um gesto único,

Algo além da compreensão humana,

Como recuar sem questionar?

Testado sob uma gigantesca pressão, 

Com os pés envoltos pelas chamas,

Você testemunhará o limite da carne,

Você manterá o silêncio estando dentro da dor?

Você já fez pacto com o diabo e teve sua alma despedaçada

Ao constatar a verdade através do fogo 

Púnico e místico da salamandra?

Você já teve que se explicar sem balbuciar na vida?

O que ainda lhe resta?

O que você ainda pode fazer para mudar as coisas?

Ás vezes eu me deparo com você focado

E ás vezes vestido às vessas no corredor do desespero.

E nada é o que parece ser no oculto,

E enquanto você espera manter
O sol sob seus olhos,

Você fecha os olhos para ver do que é feito,

E neste instante o corpo que se deita é construído no curto olhar...

E o brilho do fogo à luz de velas 

Conduz um resplandecente dourado

Mostrando o amor ao teu lado, e você venera,

Tomando somente para ti o que você mais almeja 

Sobre uma cama de violetas.

Mas quando aquele grande e velho sol no céu desaparece

O fantasma de um sorriso, o desejo quebrado,

Os passos perdidos e tão pouco seguros 

Aparecem espreitando pelas sombras

Assombrando suas horas durante a noite dentro de seu apartamento,

E cercado por suas paredes obscuras, 

Cruéis e intransponíveis para o futuro,

Você de repente sente suas pernas trêmulas e paralisadas.

Quando você olha para o espelho 

E o reflexo que seus olhos repelem de volta

É exatamente o mesmo como o todo resto,

Você então percebe que não é o pior, muito menos o melhor,

E você rapidamente se dá conta que não entende

Absolutamente nada do que está acontecendo.

Você confessa a si mesmo surrando em tons baixos que...

Você não quer ser apenas um pedaço de nada

Dependente de mãos alheias e do destino.

Você acha difícil amar uma pessoa 

Cujas pernas são dobradas e paralisadas?

Quando em seus sonhos o seu espírito vagar 

Por entre as chamas sagradas

E para além de qualquer existência material,

Dentro das profundezas de suas vísceras,

Você sentirá a salamandra de fogo surgir flamejante para colocá-lo

No ponto mais alto e claro deste mundo obscuro e delirante,

Você saberá que este é o sinal para se libertar do desconhecido?

De autoria de Elvis Alexandre Guedes!